A psicóloga, que é professora de bordado, usa a arte para estimular a criatividade das alunas

21 de outubro de 2022 por Vanessa Brollo

Filha de costureira, a Jaci cresceu cercada de fios e quando voltava da escola, ajudava a fazer acabamentos. Aprendeu a bordar ainda criança com uma senhora portuguesa, mas ao longo da vida profissional sempre esteve mais voltada para o lado racional. Desde os 17 anos quis fazer psicologia. Contudo, sentia ao mesmo tempo a necessidade de mexer com as mãos e se dedicou a diversas artes manuais até fazer um curso de patchwork e redescobrir o bordado. 

Ela conheceu o trabalho da Família Dumont, de Minas Gerais, fez vários cursos com eles, começou a ensinar e acabou levando sua experiência em psicologia para auxiliá-la no entendimento das interações emocionais nos grupos de bordado e percebeu, também, que poderia utilizar sua experiência de 30 anos na clínica em suas aulas de bordado como instrumento para compreensão de dinâmicas psíquicas.

A fundamentação teórica que embasa esta perspectiva é um mestrado onde ela pesquisou a criatividade e o uso de materialidades mediadoras em contextos não clínicos.

“Tal compreensão abriu um universo paralelo pra mim; a arte como instrumento adicional de ajuda para o outro. Hoje sou uma bordadeira e professora com um olhar diferenciado. Acho importante a técnica, mas a ênfase está em favorecer um ambiente onde o aluno possa exercitar a sua criatividade de maneira plena”

Ela ainda alerta que um trabalho com este enfoque só pode ser feito por alguém que tenha formação em psicologia.

“Quem não é psicólogo tem que deixar claro que o bordado ajuda como ocupação, mas se a pessoa estiver com sintoma de insônia, ansiedade ou depressão, precisa de acompanhamento sistemático de um psicólogo ou psiquiatra”

Jaci diz ainda que quem, como no caso dela, tiver a formação adequada, tem a obrigação ética de fazer um encaminhamento ao identificar questões de ordem emocional.

“ O bordado pode ajudar em um processo psicoterapêutico, mas não deve ser “vendido” como tratamento.Um psicólogo ao conduzir uma aula de bordado, estará atento à dinâmica grupal e ao que é expresso no tecido, uma vez que o Self se expressa através da agulha e das linhas. A pessoa que é treinada consegue identificar o que está sendo representado, qual é o conflito subjacente”.

Jaci assinala que, sob esta ótica, o profissional exerce, rigorosamente, uma função psicoterapêutica momentânea sem, contudo, proceder a um tratamento psicológico que deve ser conduzido por outro profissional, paralelamente, em setting apropriado.Ela ensina o bordado livre  e explica que  é o uso inusitado dos pontos tradicionais e nas aulas que faz com que as alunas vejam que cada trabalho é único.

“Eu posso até usar o mesmo risco, mas cada trabalho terá uma característica particular”.

A medida que as turmas foram crescendo, a Jaci criou o grupo Ciranda Bordadeira com alunas e ex- alunas. Já promoveu exposições e publicou cinco livros e duas agendas temáticas sobre bordado.

 

As dicas da Jaci:

- Dedicação e estudo para se aprofundar na área e alcançar um diferencial. Atualmente tem muita gente oferecendo serviços e aulas, então para que você tenha um ganho de fato e consiga persistir no mercado, é preciso muito empenho.

- Ser prática e organizada. Isso é fundamental quando nos lançamos em uma nova carreira. A organização dos ganhos e despesas, por exemplo, é essencial em qualquer empresa.

- Diversificar também é importante. No caso de bordado, você pode dar aulas, criar kits para vendas, produzir peças utilitárias ou comercializar bordados autorais.

- A chave do sucesso está na criatividade, em ousar, não ter medo de arriscar! Quando a gente acredita numa coisa, dá certo! No meu caso migrei para esse novo ofício na maturidade, depois dos 50, e acabei abrindo várias possibilidades pra mim.

@jacibordadosetcetal