Primeiro me apaixonei pelo colorido dos bordados e logo depois pela história do grupo Matizes Dumont. Descobri que o grupo é formado por integrantes de uma família de Pirapora, Minas Gerais, que há mais de trinta anos se dedica às artes visuais e gráficas e ao desenvolvimento humano. O grupo é formado pela mãe, Antônia Zulma Diniz Dumont, o filho Demóstenes, as filhas Ângela, Marilu, Martha e Sávia. E existe também a terceira geração que realiza oficinas e participa dos projetos sociais - Maria Helena, Luana, Ana Luiza e Tainah. O Matizes Dumont trabalha com o bordado como instrumento de mobilização e sensibilização social, inclusão sócio-produtiva e ainda jogou o bordado para as artes visuais com ilustrações de livro com autores como Ziraldo, Manoel de Barros, Jorge Amado, Ruben Alves, Carlos Brandão, dentre outros.
Voltando no tempo, lá em Pirapora, as meninas aprenderam primeiro o bordado clássico. “Os motivos eram inspirados nas revistas de bordar da Europa que chegavam a nós com a Maria Fumaça pela linha do trem. Eram flores, moinhos e crianças holandesas, tulipas, brasões, damas e príncipes de uma terra do outro lado do mar. Isso encantava nossos olhos”, conta Sávia. Mas pouco a pouco elas foram descobrindo que bordar poderia ir além dos enxovais das noivas e começaram a buscar outros motivos que não são só as da simetrias perfeitas dos florais. “Nossos bordados versavam sobre aquilo que víamos e sentíamos. Por que não? Crescemos em Pirapora, somos parte do imaginário da região. Carregamos a emoção e os elementos do cotidiano: as fachadas das casas, as platibandas, a mistura ousada de cores, o bichinho feito de buriti. As formas de sereia, as carrancas, o galho torto da árvore de cerrado, o som das águas e o medo do rio”. A liberdade de “bordar em cima do inesperado” possibilitou que desenvolvessem o que chamam de bordado espontâneo, um bordado que não está preso ao risco.
“ A ideia é fugir das regras, misturar linhas de seda com as de algodão, lembro que criamos as nossas primeiras peças para enfeitar os quartos dos nossos filhos, misturando antigas técnicas mas brincando com os tecidos para as aplicações com ponto Paris, caseado, matiz.Um dos diferenciais é que o bordado apresenta movimento”
Atualmente todos trabalham profissionalmente com o bordado na área de educação ambiental, inclusão sócio-produtiva e também com a realização de oficinas particulares por todo país. E sim, essa tradição de família é um Plano B , uma vez que todos os integrantes do grupo têm formação universitária em educação ou na área da saúde e já trabalharam nas respectivas áreas.Segundo Maria Helena, filha de Sálvia, não houve um momento único que todos decidiram se dedicar ao bordado. “Isso aconteceu aos poucos e em diferentes momentos da vida de cada integrante. Mas pode-se dizer que um marco do grupo foram os lançamentos dos livros com ilustrações bordadas e também as vendas das respectivas telas. O grupo recebe tanto com a venda das imagens, bordados originais, direitos autorais, execução de projetos sociais e oficinas particulares”. Quem vê esses bordados prontos pode achar até difícil, mas a Maria Helena garante que não. “Qualquer pessoa pode aprender este bordado. Não há pré-requisito para impedir que as pessoas aprendam. Basta a vontade e o desejo de bordar. As dicas da família:
-Trazer o bordado para comunidades com risco social para possibilitar a ampliação da geração de renda familiar. -Utilizar o bordado como projeto pessoal. Empreendimento de peças bordadas para o comércio brasileiro e exterior. -Utilizar o bordado como projetos em diversas áreas, tais como: saúde, meio ambiente e educação. -Inserir nos projetos sociais parcerias com o SEBRAE para cursos sobre gestão e associativismo.