A audiodescrição se tornou o plano B da jornalista que já atuou até durante o parto de bebês que têm os pais cegos

15 de fevereiro de 2024 por Vanessa Brollo

Toda a emoção de um parto na voz da jornalista Brisa Teixeira. Já aconteceu duas vezes. No momento mais emocionante de um casal, que neste caso é cego, ela estava lá descrevendo tudo o que acontecia na sala do parto. Esse foi um trabalho voluntário, mas já faz alguns anos que a audiodescrição se tornou fonte de renda para essa profissional da comunicação. Brisa  explica que a audiodescrição é uma tradução intersemiótica, que traduz imagens em palavras. Ela beneficia pessoas com deficiência visual (cegueira e baixa visão), assim como pessoas com deficiência intelectual, dislexia, autismo, entre outros públicos como os idosos.

“A audiodescrição vem exercendo um papel fundamental de acessibilidade em peças de teatro, no cinema, em museus, exposições, na publicidade, no próprio jornalismo, na literatura, como também na área de educação, com videoaulas acessíveis e materiais didáticos”, diz

Ainda quando atuava em veículos de comunicação ou como assessora de imprensa, a Brisa pensava no que poderia fazer como Plano B. Fez um mestrado em Educação, em Florianópolis, Santa Catarina, e quando procurou uma vaga como professora em uma universidade, surgiu a oportunidade de acompanhar uma pessoa cega, que estava reivindicando acessibilidade nas aulas e nas provas.

“Na época eu não sabia que aquela função tinha um nome. Eu fazia audiodescrição (sem a técnica, por nunca ter estudado antes) durante as aulas e era ledora durante as provas. O curso era Sistemas de Informação, um assunto que não domino. Recebia o conteúdo das aulas com antecedência para tirar dúvidas com o professor e me preparar para que não fosse tudo de improviso. Foram seis meses de acompanhamento”, conta.

Voltou para Curitiba com o objetivo de trabalhar com acessibilidade e depois descobriu que existia o trabalho do audiodescritor. Foram muitos cursos, muito estudo e hoje a audiodescrição é a principal fonte de renda da profissional que já fez roteiros de audiodescrição para peças de teatro, roteiro e narração para o cinema (curtas-metragens, documentários) e audiolivros com o roteiro das imagens do livro narradas por ela, intercalando a leitura do livro com o autor da história. Além do aspecto financeiro, a Brisa diz que a audiodescrição a tornou uma uma pessoa ativista pela causa da acessibilidade

“Luto por um mundo mais acessível, mais preocupado com o outro, por uma linguagem universal para todos. Esse ativismo é que me impulsiona para estar sempre por dentro dos temas relacionados à causa, me impulsiona e me faz me sentir uma pessoa melhor”, afima.

Para quem pretende entrar nessa área a dica da Brisa é estudar, estudar e estudar.

“Não basta fazer um curso de poucas horas para se tornar um audiodescritor. A dificuldade vai aparecer nos primeiros trabalhos, e a necessidade de estudar será natural. A audiodescrição ainda não é uma profissão regulamentada, não tem uma graduação na área, então precisa estar atento às oportunidades de cursos que aparecem”,finaliza.

 

As dicas da Brisa

 – Para ter um plano B é preciso pensar na transição do A para o B. No meu caso, precisei continuar a atuar com o jornalismo, por ser a área que as pessoas mais me procuravam, para que eu pudesse garantir o fixo do mês. Já são seis anos atuando como audiodescritora e ainda não consegui fazer a transição 100%, mas a meta é essa. Então, resumo a primeira dica, nessa duplinha de palavras: paciência e persistência.

 – Empreendedorismo exige foco. Por mais que esteja no processo de transição, focar na audiodescrição a ponto de ser obstinada pela área foi uma das dicas que recebi e que levo muito a sério. Nesse meu foco o que eu faço: assisto no Youtube, na Netflix, vídeos e filmes com audiodescrição (é só digitar audiodescrição na busca), gosto de transcrever os roteiros de audiodescrição (isso ajuda na análise, lembrando que conforme vai conhecendo os bons profissionais, pode ter o que eles fizeram como referência para escutar e transcrever para depois analisar); reformulei o meu site com foco nesta área; participo de eventos na área (online e presenciais); e não parei de estudar (quanto mais atuo na área, mais avalio que não dá para parar de estudar), sempre aprendemos algo novo, que vai ajudar na hora de traduzir imagens em palavras.

 – Estar ao lado de pessoas experientes na área e procurar fazer aulas com elas e, se possível, trabalhar com elas. Se oferecer para ser voluntária em seus projetos para aprender com elas. Viajar, se for preciso, para estar nos eventos de maior referência na área. Todo ano que posso vou para Recife para participar do VerOuvindo – Festival de Filmes com Acessibilidade Comunicacional –, que vai para a sua nona edição este ano (2024).Nesse evento, profissionais de referência de todo o Brasil, entre audiodescritores e consultores em audiodescrição, que são pessoas com deficiência visual que atuam em parceria na escrita de roteiros, se encontram lá. Então, esse networking, que faço desde o meu início de atuação como jornalista, continua a fazer parte, agora no Plano B. Networking para mim sempre foi algo natural, nunca foi forçado. Acredito que passa uma verdade e cria uma empatia entre as pessoas da área. E, naturalmente, essas pessoas vão querer te ajudar, vão te chamar para fazer parte da equipe delas. E um dia, será uma delas.

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@brisateixeira