Descobri a Jaci Ferreira em uma revista de artesanato. E me encantei com o tipo de bordado que ela faz, o chamado bordado livre, que resulta em verdadeiras obras de arte. Tive certeza que deveria contar a história dela no blog quando vi que também é psicóloga,ou seja, com esse trabalho lindo ela ainda ajuda no tratamento dos pacientes.
Jaci me contou que desde criança tinha um cotidiano colorido por tecidos e linhas. Filha de costureira, muito cedo aprendeu a fazer os acabamentos nas peças. A vida seguiu e ela ainda fez cursos de bordado, aprendeu a fazer tricô, crochê, pintura em tecido, em cerâmica...Ela se formou em psicologia, mas em paralelo à atividade intelectual diz que as mãos ansiavam pelas atividades artesanais. Há oito anos descobriu o patchwork à mão e se encantou com a técnica do crazy, que é a junção aleatória de retalhos realizada com pontos de bordado. ”O contato com os fios recuperou as memórias de infância e o prazer de descobrir pontos e cores”.
Quando conheceu o trabalho do Matizes Dumont a Jaci descobriu um novo mundo, onde as criaturas coabitam em harmonia e remetem a tempos mais felizes, aqueles onde havia jardins e balanços para as crianças brincarem em liberdade, pular amarelinha e girar os bambolês. "Quando se trocava bolos e confidências com a vizinhança e havia solidariedade e confiança". E é este universo que ela busca transpor para os bordados, ambientes mais humanos e acolhedores. A Jaci continua atuando como psicóloga e o bordado acaba ajudando. Segundo ela, qualquer atividade manual tem um efeito terapêutico, pois propicia um recolhimento natural, tão necessário nestes tempos de estímulos constantes. Ela explica que o bordado é uma atividade introspectiva que permite uma lenta e gradual imersão num universo onde a pressa cede lugar ao tempo das memórias, espaço propício à expressão da criatividade. A reunião de pessoas em torno de um objetivo comum, segundo a psicóloga, também acaba sendo uma fonte de recuperação para pessoas carentes de contato afetivo humano. A técnica com a qual me encantei é conhecida como bordado livre ou bordado contemporâneo e consiste no uso inovador dos pontos tradicionais: sobrepostos livremente ou entrelaçados a fios de diferentes espessuras, que produzem efeito de tridimensionalidade nas peças. A técnica, de acordo com a artista, viabiliza a expressão subjetiva da bordadeira, sendo, portanto, um trabalho autoral.
A Jaci hoje dá aulas de bordados e workshops pelo Brasil. Além disso, desenvolve projetos que envolvem 25 artistas de todo o país e atua como curadora das exposições do grupo Ciranda Bordadeira e como organizadora de livros. Só trabalha com venda de peças sob encomenda. Ela diz que se sente completamente realizada exercendo as duas atividades. “Consegui associar os conhecimentos advindos de minha formação em psicologia e psicanálise com o ensino da técnica. É extremamente gratificante testemunhar a expressão de felicidade das alunas ante suas criações, o quanto isso representa em termos de recuperação da autoestima ao se perceberem capazes de produzir verdadeiras obras de arte com os fios e cores”.
As dicas da Jaci
-Desde o início de minha vida profissional acreditei numa espécie de “lema”: quem tem apenas uma opção não tem nenhuma e isso fez com que eu procurasse exercer sempre, em paralelo, uma atividade que me assegurasse uma segunda fonte de renda, ainda que reduzida.
-A minha sugestão para quem compartilha desse ideal é persegui-lo com persistência: pesquisar sobre o assunto, ler muito, estabelecer contatos com outras profissionais, trocar ideias e projetos, frequentar cursos. -O mais importante, penso, é criar um diferencial para o trabalho a que se propõe e se distinguir dos demais existentes.
-Para quem deseja iniciar o aprendizado em bordado acho fundamental a presença humana, embora as informações estejam disponíveis em sites e vídeos, nada a substitui. É o contato afetivo, em minha opinião que viabiliza e enriquece o aprendizado. www.bordadosetcetal.com.br