A Lenisa Lima é médica há 28 anos e escolheu ser pediatra porque sabia que era a especialidade que lhe traria mais felicidade. Mas mesmo com a rotina intensa, ela sempre separou um tempo para atividades manuais.
“Minha avó e minha mãe costuravam, bordavam, faziam crochê, frivolete. Cresci vendo isso, aprendendo a valorizar esse trabalho, aprendendo a apreciar. Tenho isso lá dentro desde criança”
E foi essa identificação que a levou a procurar um curso de cerâmica. Fazendo aulas livres ela diz que conseguiu aprender uma nova arte, fazer novas amigas e ainda distrair a mente e relaxar. Quando veio a pandemia não conseguiu mais fazer as aulas, mas já tinha uma boa noção das técnicas e mesmo se considerando uma iniciante começou a produzir em casa. Em um espaço que chama de “sala do quintal”, a família faz as refeições, assiste TV e é lá que tem o torno e uma mesa onde funciona o atelier. A Lenisa faz peças utilitárias porque gosta de ver cerâmica na mesa.
“Ela proporciona um aconchego diferente, deixa esse momento de partilha, que é a refeição, mais significativo. Aquece, acolhe, acompanha momentos felizes”
E a médica ceramista também é apaixonada pelas casinhas de cerâmica. “Adoro produzí-las. Meu pai era engenheiro e eu admirava a ideia de construir algo do zero.Transferi esse sentimento para as casinhas e tenho nelas o significado de construção e abrigo”. A Lenisa seguia produzindo lindas peças e como gosta de fotografia decidiu fazer uma página no Instagram. A ideia inicial era fazer um álbum de fotos digitais do trabalho , mas…começou a receber mensagens de todo o Brasil das pessoas querendo comprar.
“A família e os amigos sempre dizem que está bonito porque não conseguem ser imparciais, então foi muito legal ver que outras pessoas poderiam gostar das minhas peças”
Ela não tem ideia de quanto produziu, mas já mandou peças de cerâmica para todo o Brasil. “Pedacinhos que modelei com minhas mãos”.Como médica, a rotina de trabalho continua intensa, mas ela produz nos finais de semana em que não está de plantão e de noite quando a família se reúne na “sala do quintal”.
“Tenho uma rotina corrida, mas acredito que com organização é possível conciliar trabalho com atividades que cuidem da saúde mental. Esse ócio produtivo que é indispensável na vida para proteger o cérebro”
As dicas da Lenisa
- Minha experiência diz que é preciso procurar algo que te dê muita satisfação.
- Também tem que ser organizado para atender as demandas a que você se propõe. No meu caso ela é pequena e não tenho disponibilidade para aumentar isso dentro do que me propus, que é fazer com dedicação e de forma muito pessoal.Talvez mais para a frente.
- Penso que quando isso se conecta com a tua identidade, com a pessoa que você é, teu modo de ser e viver. Quando isso é muito claro, surge um interesse de pessoas que você nem conhece. Deixa de ser apenas um objeto, mas passa a ser algo com significado. Porque a forma que você produziu transmite isso. E isso te conecta com pessoas que também têm essa ideia do sentimento no que foi produzido.